What do you think?
Rate this book
388 pages, Hardcover
First published August 30, 2007
A leitura não é senão um exemplo das atividades culturais surpreendentemente diversas que a espécie humana criou uma dezena de milhares de anos (…). Revisitada por numerosos teóricos do relativismo cultural no século XX, esta visão do homem recoloca em questão a ideia mesma de uma espécie biológica. (DEHAENE, página 19)
Formulo, então, a hipótese de que as invenções culturais como a leitura se inserem nesta margem de plasticidade. Nosso cérebro se adaptá-la ao ambiente cultural, não absorvendo cegamente tudo o que lhe é apresentado em circuitos virgens hipotéticos, mas convertendo a outro uso as predisposições cerebrais já presentes. Nosso cérebro não é uma tabula rasa onde se acumulam construções culturais: é um órgão fortemente estruturado que faz o novo com o velho. (DEHAENE, página 20)
Com efeito, o papel da escrita não se limita ao registro da realização dos fonemas (…). O primeiro objetivo da escrita é transmitir as palavras e restituir o significado. Portanto, não é possível adotar uma transcrição servil dos sons pelas letras. (DEHAENE, página 48)
Assim, a combinação dos métodos de imagem permite afirmar que essa região, no hemisfério esquerdo, desempenha um papel precoce e específico no reconhecimento de palavras. Mesmo se os dois hemisférios abriguem competências para o reconhecimento de palavras e rostos, o hemisfério esquerdo apresenta um viés importante para a leitura e o direito, para os rostos. (DEHAENE, página 94)
O velho antagonismo entre inato e adquirido é uma armadilha, uma vez que a própria aprendizagem repousa sobre uma maquinaria inata e rígida. Com toda a evidência, o adquirido se apoia no inato. O melhor exemplo dos limites da plasticidade cerebral é o da fusão das informações originarias dos dois olhos. (DEHAENE, página 163)
O poder da escrita é verdadeiramente mágico – não porque ela seja um dom divino, mas porque ela amplia consideravelmente as competências de nosso cérebro. Envaidecidos pelas conquistas de nossa cultura, esquecemos de nos admitir com que um simples primata, Homo sapiens, primo próximo do chimpanzé, pudesse aumentar assim sua memória pelo viés de alguns traços de papel. (DEHAENE, página 191)
Toda uma parte do lobo temporal esquerdo foi bastante subativada, nos disléxicos e isto, no mesmo local e a um grau comparável nos três países (Figura 6.1). A despeito das variações culturais de superfície, a dislexia possui, pois, mecanismos cerebrais universais, ao menos para as escritas alfabéticas. (DEHAENE, página 262)
Seu objetivo (do jogo de computador) é o de indicar aquilo que o psicólogo russo Lev Vygotsky chamou de “zona proximal” de aprendizagem – uma região do domínio que se procura ensinar onde a aprendizagem é máxima porque os problemas são suficientemente difíceis para suscitar o interesse da criança, mas suficientemente fáceis para evitar seu desestímulo. (DEHAENE, página 275)
Ao contrário, esse mesmo neurônio não responderá necessariamente com a mesma força às formas simétricas conforme o eixo vertical. Dito de outra forma, tal neurônio distingue um “p” de um “b”, mas não um “p” de um “q”. (DEHAENE, página 297)
Que possamos assim modificar nossos circuitos cerebrais a fim de “escutar os mortos com os olhos” provém da mais pura oportunidade. Tivemos simplesmente a chance de dispor de regiões corticais que têm o poder de aprender a ligar alguns traços sobre uma página em branco aos significados e aos sons da linguagem. (DEHAENE, página 321)